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segunda-feira, julho 14

Pérolas a Porcos

À Andreia e ao Daniel (o nome da personagem não tem nada a ver, amigo).
Di e Sofias: se não souberem donde fui buscar esta ideia, lembrem-se daquela tarde no Castelo...
Tudo na mesma cumá lesma. São oito e meia da manhã, o dia ainda mal rompeu, mas o Daniel já está cá fora, na exploração (chamar quinta àquilo é uma ofensa às quintas a sério), de galochas e gabardina de plástico amarela florescente, atolado em merda até aos joelhos (o esterco infiltrando-se pelo cano das botas, acumulando-se junto aos calcanhares: no final do dia, quando se descalça, os peúgos aguentam-se de pé sozinhos), pensando andei eu a estudar quatro anos para isto. Entrou no grande armazém das bestas (chamar àquilo estábulo seria uma ofensa aos estábulos a sério). Assim que passou da porta, a pestilência dos porcos trepou-lhe pelas narinas. Ainda só tinha comido uma torrada e bebido café e estava de ressaca da noite anterior. Debruçou-se sobre uma das vedações e gregoriou o recheio das entranhas para o meio do estrume. Um dos porcos aproximou-se e pôs-se a abocanhar-lhe o pequeno-almoço liquefeito, focinhando de borco com a ventosa peluda. «Isto vai ser um dia bem longo!», pensou, ao bochechar com água da mangueira para enxaguar da boca aquele gosto acre.

Depois, pousou no chão do lado de fora a mochila e as vasilhas, calçou umas luvas de borracha das obras, que fez estalar com um beliscão, como os cirurgiões da tv fazem às luvinhas de látex, e avançou sobre o primeiro freguês do dia.
— Fica quieto, meu cabrão sortudo, não faças a cena mais degradante do que já é.
Chegou-se ao porco, agarrou-lhe o membro com a ponta dos dedos de borracha. Tinha a cara amarelecida de nojo e pensava em futebol para não vomitar de novo, os melhores lances da jornada sobre a lusalite do telhado para onde fugiu com os olhos. E começou a agitar, para cima e para baixo, para cima para baixo, cima baixo, freneticamente, olhando para longe, pensando Benfas, rabo da Mónica, aquela esquerda épica da Cova do Vapor, no fim-de-semana passado. Era oficial: aquele era o pior emprego do mundo. Tinha amigos a bulir em sítios bem maus, mas aquilo batia tudo: masturbador de porcos. É claro que não era essa a sua única tarefa na exploração de suínos da A.M. Casais Militão & Filhos, mas uma vez por semana já sabia que lá tinha de ir de vasilhas às costas esgalhar a pívia semanal aos porcos sementais do curral, para depois inseminar artificialmente as porcas, que estavam presas noutro pré-fabricado, do outro lado do baldio.

— Por que raio não deixam os porcos e as porcas à solta juntos e eles que se entendam? Viviam mais felizes eles e eu! Cabrão do velho!
Mal ele tinha acabado de desabafar com o porco, que parecia agora ter ganho um sorriso estúpido à medida que o membro bestial se lhe intumescia e já roçava o estrume, quando o velho Militão, o patriarca da empresa, entrou no armazém.
— CANOAAAA!!! Estás aí?
«Sim, mas estou com as mãos ocupadas», apeteceu-lhe responder.
O velho era gordo e imenso, parecido com os bichos de que sacava o ganha-pão. Pequeno e redondo, não se lhe via o cinto ao coberto da pança. A cabeça era redonda, calva e muito branca, os olhos e a boca eram pequenos, demasiado pequenos, como três frestas abertas à pressa pelo Criador tentando remediar as coisas quando se apercebeu que o modelo vinha com defeito. O patrão foi-se plantar ao pé dele, mãos na cintura, a abanar a cabeça.
— O que se passa? — perguntou o Dani, de cócoras com o membro do bicho na mão.
— Mas tu queres matar o pobre animal? É assim que tu fazes a ti próprio?
— É um porco, senhor Militão, não me parece que…
— Não me venhas cá com teorias! Ainda tu não eras nascido já eu criava porcos! Não vos ensinam nada de jeito na universidade?
Fica o apelo ao conselho científico do Instituto Superior de Agronomia: incluir no plano de estudos a cadeira prática de Técnicas de Masturbação de Gado Suíno.
— Para ti pode ser uma besta, mas o porco é um animal sensível! Aprende com quem sabe, há cinquenta anos que vivo no meio dos porcos!
«O melhor é não entrarmos por aí…», pensou ele.
— Como quer então que faça, senhor Militão? — perguntou ele, mas o que lhe deu mesmo vontade de responder foi «se está à espera que lhe sopre no ouvido e lhe diga que o amo, bata-lhe a pívia você».
— Tens de sentir o porco, Canoa, sentir o porco! Para já, tira-me essa merda dessas luvas! Como é que queres ter sensibilidade nas mãos com essa borracha toda?
— Senhor Militão!
— Estou à espera!
«Muito custa ganhar a vida!», pensou ele, enquanto se desembaraçava das luvas.
— Vês como a coisa marcha logo doutro jeito? Suavidade, Canoa, suavidaaade!
Assim que o velho deixou o armazém, ele tornou a calçar as luvas, agarrou no animal pela picha, insensível à guincharia, e desatou numa ordenha tão violenta que, passados poucos segundos, o porco já esguichava o seu líquido fétido e amarelento. Então o Daniel levantou-se, tirou as luvas e acendeu um cigarro. O orgasmo dum porco dura qualquer coisa como vinte minutos. As primeiras esguichadelas nem vale a pena colher, estão pejadas de impurezas, e a parte do fim também não interessa pois praticamente não tem semente. Era fazer o servicinho medonho e deixá-lo esguichar tipo torneira durante uns cinco minutos: só do sémen do meio é que se faz a colheita para inseminação. O Daniel suspirou, vendo o porco estrebuchar de prazer. Tinha o focinho regalado, feliz, quase sorridente.
«Ri-te, ri-te, meu cabrão! Vamos ver quem ri quando fores uma barra de fiambre! Para ti não há esperança nem salvação. Olha bem para ti, nem consegues virar os olhos para o céu!». Depois, olhou em volta, para as dezenas de porcos que faltavam para o dia estar feito e sentiu vontade de morrer ali mesmo.

A exploração ficava para os lados de Palmela, um aglomerado de armazéns de cimento e chapa ondulada donde se ouvia o rugido dos carros a passar na A2. Tudo o que de bucólico pudesse haver naquela quinta havia sido exterminado no dia em que daquele chão ameno e soalheiro das terras do moscatel brotou mais uma máquina de terror agro-industrial. Além dos porcos, havia também um aviário de frangos. O que valia era aquilo ficar a vinte minutos de casa: nunca apanhava trânsito de manhã pois rolava sempre ao contrário do resto do mundo. Era o que tinha de bom aquele emprego, a única oferta que lhe apareceu quando terminou o curso de engenharia agronómica no ISA. A ganhar 800 euros por mês, sem subsídio de férias nem de Natal, a recibos verdes, naturalmente, e aturar o Militão mais as carências afectivas dos seus porcos cinco dias por semana das oito às cinco, quase que mais valia estar em casa sem fazer nenhum, mas enfim. A ideia original era ficar ali uns tempos a ganhar o dele até abrirem concurso para uma bolsa de investigação científica para ir trabalhar nos laboratórios de certo Instituto. Já lá iam seis meses. O concurso lá abriu, mas, para surpresa dele, não passou duma formalidade como qualquer outra: a bolsa já tinha dono muito antes de ser atribuída.
O regulamento tinha a assinatura oculta do Senhor Cunha, essa eminência parda sem cujo beneplácito ninguém na Tuga sai da cepa torta. No artigo 4.º lia-se:

“Destinatários
Podem candidatar-se à presente Bolsa os candidatos, cidadãos nacionais ou estrangeiros, que reúnam os seguintes requisitos:
a) Licenciatura na área da Engenharia Agronómica, Biologia Celular e Molecular, Bioquímica, Biologia, Química Aplicada, ou afins;
b) Fluência nas línguas inglesa e neerlandesa, falada e escrita
c) Gosto por desportos e actividades ao ar livre, especialmente no meio aquático;
d) Habilitação para o exercício da actividade de instrutor de vela.”

Curiosamente ou não, o único sócio a concorrer que preenchia todos os requisitos era o sobrinho recém-licenciado da directora do laboratório, que havia passado um ano em Erasmus na Holanda e até tinha a tal licença de instrutor de vela, absolutamente essencial para desenvolver projecto em laboratório na área da biotecnologia em qualquer parte do mundo! Em Portugal, pelo menos, assim é.
Não faltava quem dissesse que o ideal é um gajo pirar-se para o estrangeiro quanto antes e tínhamos amigos que foram por essa via, mas o Daniel não via as coisas desse modo. Se Portugal é um país rico, por que raio não temos o direito de ganhar o nosso pão na nossa terra com dignidade? Além disso, no estrangeiro, mesmo na União Europeia, eles protegem a prata da casa, é natural que assim seja. Nós aqui nem para nós próprios somos bons.
— CANOAAA! — soou novamente a voz áspera do velho Militão — Em quantos já vais?
A resposta do nosso Dani não lhe agradou e começou a desancá-lo forte e feio.
— Senhor Militão, o senhor disse-me para ir com calma, com suavidaaaade, isso leva mais tempo!
— E ainda respondes! Eu disse para fazeres isso com suavidade, mas também não é preciso levá-los a jantar e ao cinema!
O velho virou as costas e foi-se embora. O Dani, de cócoras, enterrado em esterco e com o membro do porco a palpitar na mão teve então um instante de iluminação triste, viu com total clareza ao que chegara a sua degradação. Se fosse homem de chorar, teria chorado.
«Diga-me você que tipo de filmes é que eles gostam, afinal é você quem vive no meio deles há cinquenta anos!», era o que lhe devia ter dito, pensava o Dani, o sacana ia ver!
No final do dia, exausto e a tresandar a suor e a estrume, pôs o motor do carro a trabalhar. Havia uma barraca com chuveiro onde se podia lavar, mas tinha sempre fila e ele preferia empestar o carro com aquele fedor a passar um minuto mais do seu dia ali metido. No caminho para a estrada, passou por um antigo curral, que já estava praticamente desactivado pois o velho havia entretanto mandado fazer um maior e melhor na outra ponta da exploração. Lá dentro, com as primeiras chuvas do Outono, haviam brotado do esterco inculto vários tufos de azedas, cobrindo o chão com as suas florzinhas amarelas.

7 Comments:

Blogger Funafunanga said...

Este estava no baú das velharias. Vou aproveitá-lo para o próximo livro. Quando o escrevi, ia indo às lágrimas de tanto rir. A ideia do masturbador de porcos veio duma pessoa que conheci em Castelo, a terra dos pais da Sofia Granja, uma vez em que lá fui com a malta. Sempre quis escrever em linguagem da rua, como se estivesse a contar a estória num bar, com umas quantas imperiais no bucho, sem pretensões de erudição excessiva (é o mal dos escritores portugueses hoje em dia... praticamente todos, plenos de cagança, autênticos Onassis - Armadores de Pngarelho, S.A., escrevem friamente, como quem faz um tratado de biologia celular... Pois oiçam-me: a escrita é bravata, é audácia, é tusa, é extravaso-gratuíto-de-testosterona, a escrita é festa brava - que me perdoe quem não gosta - o escritor é o forcado e os seus medos e inquietações o touro). O tema deste excerto, claro está, é o mal do país, onde nada se faz sem connectz... Mas será só isso? Será que a personagem não atribuirá todos os seus males a esse factor, para se desculpar da sua própria inércia? Conheço algumas pessoas assim. Tenho um carinho especial por este texto, por razões que não vêm a propósito. Em todo o caso, espero que vos dê tanto prazer como me deu a mim.

julho 18, 2008 1:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Este sim, ao teu velho estilo cru e honesto! isto é a verdadeira escrita honesta, quase querosiana! e um dia será freireana!
e sabes que mais... umas luvas dessas já me teriam dado jeito!
beijos grandes!
p.s. - podia fazer aki grandes declaraçoes honestas de amizade mas depois isso nao ia joga bem com o tal feitio de merda (mas iria confirmar o "carácter de ouro" - o que é que te deu p escrever esta merda??? :P)

Di

julho 18, 2008 12:19 da tarde  
Blogger Funafunanga said...

Di, agradeço imenso o elogio, mas... Desde quando é que o Eça faz "escrita honesta"? Acho-o tão repimpado, tão comedido. Brutalmente honestos, para mim, são Gil Vicente, Bocage, Luiz Pacheco. Entre os portugueses, claro.

julho 18, 2008 3:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Primeiro miuto obrigado pela dedicatória, tenho é a impressão que o Daniel (a quem tb dedicas-te) não vai achar muita piada apesar do aviso lol.
Confesso ri-me, fiquei com lágrima...o tirar as luvas, tem de se lhe tirar o chapéu, dá um "toque especial", no bom sentido claro...
O novo livro vai ser giro vai...vão colocar idade mínima pelo andar da linguagem...

julho 21, 2008 11:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Acabei de ver uma notícia e não resisti...vais ter de refazer a tua linguagem...o acordo ortográfico foi promulgado...imagina a quantidade nova de palavras e de erros q vais ter de emendar nos teus textos já feitos....

julho 21, 2008 1:55 da tarde  
Blogger Filipe de Arede Nunes said...

Às vezes também sinto que o que faço da vida está directamente relacionado com o Daniel "masturbador de porcos" Canoa!

Abraço,
Daniel

julho 28, 2008 5:17 da tarde  
Blogger PIRII said...

Inspirador. Durante toda a leitura do texto senti um sorriso delicioso esboçado no rosto. Um texto muito verdadeiro e de uma ironia muito real. Há, de facto, uma quantidade assustadora de masturbadores de porcos por aí.

Dei com esse blog hoje e, ao que parece, fiquei fã. Já está na lista dos meus sites favoritos.

novembro 06, 2008 4:36 da tarde  

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