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segunda-feira, julho 21

As caixas

A minha amiga andava em mudanças. Ela anda em mudanças desde que a conheci, de certa maneira. Convidou-me para ir ver a casa nova e eu, como é hábito, cheguei mais cedo. Comprara um ninho de dois pequenos andares, encavalitado na copa dum prédio entre Santos-o-Velho e a Lapa, entre a boémia e a fineza - sim, lembro-me de ter pensado, entre todos os recantos da cidade, só este poderia ela habitar - e, quando lá cheguei, ela valsava com um cartaz vintage emoldurado por entre fichas triplas, sofás plastificados, dois brasileiros da tv cabo, malas de viagem e produtos de limpeza.

Estava macambúzio por razões que moravam para lá daquelas paredes e alegrou-me imensamente, não sei ao certo porquê, quando ela me confiou o seu par na dança, mo pediu que o pendurasse e me prometeu mais na volta. Estava a ser explorado e adorava sê-lo. Depois, peguei num pano do pó e subi as escadinhas de caracol. No cimo da espiral, o quarto dela ocupava o sótão do prédio. O clarão poeirento vindo da janela envolveu-lhe o corpo e fê-la brilhar como as santas das gravuras góticas, as pontas dos cabelos ruivos transformaram-se em fios de cobre descarnados, espalhando uma energia invisível por todo aquele que ousasse aproximar-se. Gostei daquele brilho. Fez-me lembrar outras eras, quando toda a multidão pensava o mesmo, fazia o mesmo, sentia o mesmo e eu olhava em redor em busca dum rosto diferente e aí estava ela, também a olhar-me, procurando o mesmo. Formava-se então uma clareira invisível, mas sensivelmente do tamanho daquele sótão, e nós no meio, a observar a carneirada, não nos sentindo nem superiores nem inferiores, simplesmente a gozar o prato e a gozar o facto de termos o que é preciso para gozar o prato e de termos companhia nisso.

Ajudei-a a limpar o pó às madeiras e a aspirar o colchão e, quando terminei, ela abriu um armário e tirou de lá um monte de caixas de cartão, que me pediu para arrumar nas prateleiras nuas da parede junto à boca das escadinhas. As caixas estavam marcadas com nomes: André, Gustavo, António, Nuno, e eram tantas que, cada vez que eu levava uma pilha para arrumar e voltava, mais iguais a essas me aguardavam, no chão, formando um pequeno muro.
- O que são? - perguntei.
- Cada uma é de um ex diferente. Podes ver, se quiseres.
- Acho que não devia...
- Estás à vontade.

Abri uma para espreitar: cartas, poemas de amor foleiros e arrebatados, rosas secas, fotografias. Abri outra e outra e outra, cada homem diferente dos demais, todos eles iguais, troféus da mais sangrenta das guerras, mas que não vem nem nunca virá nos livros de história. Suspeitariam eles que aqueles pedaços de matéria orgânica que os fizeram passar noites em claro poderiam vir a ter o seu descanso eterno encaixotados num jazigo colectivo? Quanto de cada um de nós definhará em caixas empilhadas por essa terra fora? E ela não é nenhuma caçadora de cabeças. Essas não fazem prisioneiros. Apenas uma mulher normal, nem uma santa, nem uma puta. Uma mulher com caixas.
Coisa estranha, o amor: num momento, é grande demais para o mundo, noutro cabe numa caixa de sapatos.
Os leitores amigos que me perdoem este inqualificável momento de pieguice e considerem-no como fruto de um estado incapacitante transitório. Retomaremos a programação normal dentro de momentos, com toda a sordidez e crueza a que vos habituei e a que têm direito. Prometo.